domingo, 27 de abril de 2014







Um hálito me sopra o silêncio de um sonho, quando de metal a lua fere a baía e ilumina o coração dos vencidos, com suas mãos de barro e seus olhos de bronze. Nesta carcaça ao relento também me perco a te procurar e me assusta nada ser de tudo que há. O vento levanta o mar em transe, os sinos dobram por tua sina, as árvores s’ estralam, uiva um cão no peito e o mais belo crime me chama da solidão.


Jason de Lima e Silva

terça-feira, 8 de abril de 2014



Cuidado, o céu cede na envergadura das torres, e ninguém quer ser esmagado pela sombra de seus delírios. Coragem! Quando o calor te desperta, já pressentes o labor a ter simplesmente existir. A agulha da consciência costura teu corpo a cada fracasso. E quem não fracassa! E para que consciência! E assim, de ombro a ombro, vais-te a bater contra a multidão para te sentires vivo, até perderes o mais precioso dos bens: a palpitação do infinito, que em teu peito recorda o ser a vida absurdo.

Jason de Lima e Silva

terça-feira, 18 de março de 2014



O corpo é vencido pelo mormaço das ocupações ordinárias, e se os pensamentos vagam sobre as montanhas da imaginação e pendem os olhos para os sonhos estilhaçados das estrelas, somos sorrateiramente abraçados pelo tédio de tudo o que é finito, e mergulhados na escuridão de um quarto revemos claramente o que o dia nos levou. Assim o sono nos sepulta o peso das horas, assim nos sopra a brevidade de suas brisas e o canto de seus arruinados. Rimos com os amigos e rimos sempre ao lembrá-los.

Jason de Lima e Silva

terça-feira, 4 de março de 2014



Grandes são as virtudes que desmoronam em meu peito. Crua demais é a vida para abençoá-la de promessas. E como viver sem promessas! O anjo de teus olhos caiu em minhas mãos como gota incandescente de chuva. E já não seguro mais a pele que nos encobriu noite passada num só corpo, num só ruído, numa única promessa.
Jason de Lima e Silva

domingo, 26 de janeiro de 2014



E quando nos vimos já pisamos o charco de nossas infinitas obsessões, alegres convivas das noites sem prumo, centauros então voltam a lutar em nossas almas, zomba a natureza das mais justas pretensões de uma vida, e por pouco um único instinto não desfaz a promessa de sermos acolhidos, troveja o céu sobre nosso pequenino mundo, e uma farpa da realidade já nos fura os olhos mal abertos, e ora perplexos da dissonância de tantos humores, perdemos as coisas mais próximas, e aprendemos tudo sobre nada mais dizer.

Jason de Lima e Silva

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014



Dorme. Acorda. Olhos abertos. Mil cavalos galopam furiosamente por nuvens e nuvens de ideias. É madrugada. Nada se espera, o que está feito, está feito. Os animais bebem ao longo do rio. Ali, no deserto do mais raro sol, saber-se mortal é também amar o que se perde. Afinal, quem suportaria a eternidade? O murmúrio de nossos ancestrais e o último alento da noite. Dorme. A vida é um sonho sem volta.


Jason de Lima e Silva