quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015


Deita-te herói e cubra teus olhos do sol
A dor em teu peito o mar a levará
E quando estiveres desperto colherás o fruto mais doce da Melancolia.

Assoprarás como pó todo o temor do peito
E se formarão nuvens para te suspender da terra
Mas quererás ficar na terra
Para sentir o cheiro das plantas
E receber a noite e seus fantasmas

E quando à praia subirem os enforcados
Acenda o fogo entre as pedras

E ouça o canto de quem não volta mais



Caspar David Friedrich, Pôr do sol sobre o mar, 1826




domingo, 8 de fevereiro de 2015

A dor do regresso e o olhar de Calipso

“Eu que acolhi-o carinhosamente, alimentei-o e afirmava que o havia de tornar imortal e que durante todos os seus dias seria preservado da velhice. Mas, visto não ser possível a nenhum dos deuses infringir sem efeito a vontade de Zeus, portador da égide, que se vá, por sobre o mar estéril...”.
“... e a veneranda ninfa foi ter com o magnânimo Ulisses. Encontrou-o assentado na praia. Nos seus olhos nunca se extinguia o pranto; ia-lhe decorrendo a vida a suspirar pelo regresso, pois a ninfa já não lhe era grata. As noites era obrigado a passá-las, mau grado seu, na côncava gruta, junto dela, que assim o desejava; e de dia permanecia assentado pelos rochedos da praia, a consumir o peito com lágrimas, suspiros e aflições. Ali chorava contemplando o mar estéril”

Homero, Odisseia, rapsódia V (Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1980).