domingo, 4 de agosto de 2019

Mundo doido

A mim me pergunto
Que mundo doido esse
Traz o progresso no colo
Mas na morte investe
É veneno no solo
Vaticínio da peste
A mim me pergunto
Que mundo doido...
Inventaram o apocalípse
Prenderam o presidente
Ninguém vê, minha gente?
É juiz é procurador
Tudo amigo o mesmo complô
Pátria nossa quanta inversão
Quem condena é o ladrão
A mim me pergunto
Nunca houve ditadura
Nem racismo
Nem nada disso
Balela de comunista
O maldito, o postiço
A Terra é plana até na China
Mas uma coisa verdade
Pra eles tudo
Pra nós a latrina
Seu Deus acima de todos
É o rico em cima do pobre
Quem pode pode
Legalmente sorve
Nióbio, ouro e cobre
Neste mundo de ponta-cabeça
Com pressa de sucesso
O indígena é retrocesso
O carroceiro empreendedor
Perseguido o professor
O petróleo dão pros gringo
A Amazônia vira bingo
O certo tá do avesso
O avesso tá um vexame
A crença mata a ciência
E quem ensina é o pastor
Fim dos tempos dá dinheiro
Teologia da escravidão
Aposentadoria uma ilusão
A mim me pergunto
Que mundo doido é este
Ou a curva nasceu reta
Ou o direito é mesmo torto
Cruza a nau desgovernada
Esse poço sem fundo
Nosso Brasil profundo

Jason de Lima e Silva 

sábado, 2 de março de 2019

F. de Goya y Lucientes, Contra o bem geral, Desastres da guerra, c.1810

Moro, ondes moras?
Em um castelo sem muros?
Quem te pôs aí de herói desta republiqueta?
Mandas prender, mandas soltar?
Podes falar, mas não queres ouvir?
Basta delatar, condena

Dá pena
Não de ti, mas do fiel que te endeusa
É muita cena pra pouco patrão
Muito holofote para uma besta

Mas moroso não és
Tens pressa de fama e reputação
A primeira escorrega e a segunda te enterra
Não demora, espera

Juiz de arbítrios
virou ministro
E quanta laranja nesse quintal!
Mas o tagarela de carreira se cala
Sinistro, nada mal

Assim tiraste um presidente da eleição
E se copiam tua sentença
É para que o povo do cara esqueça
Quanta ilusão!

Moras na penumbra
O que vem, volta
Se te mexes, apavoras
Nem levanta, senta
A poltrona é pequena
Pra tanta pretensão

O tempo passa, a face afunda,
O povo se mata, o mito gasta,
E não acabas com a corrupção


Jason de Lima e Silva