Auguste
Rodin, L´Homme et sa pensée c.1900
“A
representação de um homem que se ajoelha e, com o toque de sua testa, desperta
na rocha diante de si a suave forma de uma mulher, que permanece ligada à
pedra. Se quisermos interpretar isso, podemos nos satisfazer com a expressão
dessa inseparabilidade do pensamento apegado à testa de um homem: pois sempre
são seus pensamentos que vivem e se erguem à sua frente; atrás disso há pedra.
Relacionada a isso está também a cabeça que pensativa se dissolve até o queixo
em uma grande pedra. La pensée, esse
pedaço de claridade, ser e face que se erguem devagar do pesado sono da surda
permanência”.
Rainer
Maria Rilke, Rodin, 1902
Auguste Rodin, L´Homme et sa pensée c.1900
A cabeça do homem se firma sobre o peito juvenil de um ventre feminino. Suas mãos e seu corpo estão presos na terra. Um rosto lhe escapa do cenho e, ao mesmo tempo, acolhe toda sua introspecção. A virilidade do pensamento se concentra na terra, enquanto uma perna lhe toca suavemente o tronco e acende a chama de seus sonhos mais íntimos. Quem me chama? De sua testa uma força se suspende, como se um vento lhe atravessasse a nuca para varrer os leves braços de suas ilusões. Os braços viram pedra. O homem se segura na pedra e por pouco não é varrido também pelo que sempre por si atravessa e se esvai. O pensamento humano está na unidade de uma silenciosa luta que a obra recolhe. O homem não pode abraçar o corpo que está além de seu corpo, embora diante dele se prostre, para não perdê-lo, e contraia assim todos os seus músculos, para não se perder: como me chegou o que a mim me leva? E num instante tudo volta a ser pedra. Como da pedra que pesa o tempo de cada ato, a vida esculpe no pensamento o que lhe é sempre desconhecido e o pensamento recebe da vida a potência além do instante.
Jason de Lima e Silva
"O pensamento humano está na unidade de uma silenciosa luta que a obra recolhe." Belo!
ResponderExcluirForte abraço,
Luccas.