sábado, 13 de outubro de 2018

A roda


Foto: Leandro Couri


ao Mestre Moa do Katendê

Acontece de o céu girar e se erguer como chapa metálica
As mãos suam
E é possível sentir o coração bater na garganta
Ainda reverbera no tímpano o riso das doces criaturas
Quem são elas? O que foram a vida inteira?
Como arrancaram suas almas pelos calcanhares
E deixaram ocos os seus corpos de fantoches?
Não há como acordar uma massa de gente
Apressada no meio dos ruídos e distúrbios
Todos querem algo a mais
“Que seja a guerra”
Assim dizem
“A cidade já virou ruína
E nós já estamos mortos”
Por isso toda a carnificina não lhes basta
De humanos ou animais
Mas o grito ainda é humano
Quem poderia socorrê-lo?
O traquejo, o canto, a rasteira
A graça, o praça e chega o tal
Parou a ginga da roda
Escorre o sangue entre as frestas
São de pedras as lápides
E de silêncio o berimbau
Jason de Lima e Silva


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